Injustiças no Campo Missionário

Aqueles que querem fazer missões devem estar bem acostumados com as adversidades. Se você sai de seu país certamente você vai sofrer injustiças em terras alheias. A bíblia diz: “…não oprimirás o estrangeiro” ( Ex.23:9), mas este mundo que não conhece a Deus, também não conhece este mandamento. Você sentirá na pele o que é acepção, racismo, menosprezo, discriminação, pois você está em um lugar que não é a sua casa. Gritar por direitos muitas vezes vai parecer algo vazio e ter algum direito será apenas uma concessão. Pode ser que com o passar do tempo esse ambiente se torne comum para você, mas ele continuará existindo e você continuará sofrendo as conseqüências de sua existência. Tenha consciência que nós vivemos em um mundo hostil.

Quando cheguei em Santa Cruz de La Sierra tive que pegar um taxi do terminal de ônibus até a casa de um irmão. Aproximei do taxista e perguntei o preço. O taxista olhou para mim, viu que era brasileiro e me deu o preço quatro vezes mais caro. Como no Brasil o taxi é muito caro eu ainda assim achei barato. Quando cheguei o irmão quase caiu para trás com o preço que me cobraram. Este é apenas um exemplo do que você sofre quando sai de “sua casa”. Não é necessário prolongar muito falando em detalhes, mas rapidamente conto o que era de costume acontecer com quem queria tirar visto de permanência no Paraguai. Dávamos a entrada na Migração Paraguaia e o passaporte deveria ser encaminhado a Asunción. Mas funcionários fraudulentos não enviavam e enquanto o tempo passava eles pediam dinheiro para uma coisa e outra e no final nunca tínhamos a documentação. Já aqui na Bolívia é nos dado um papel com a lista dos documentos que necessitamos. O problema que tem o nome dos lugares, mas não tem endereço. Quando buscávamos o guiche de informação na Migração Boliviana ninguém te respondia nada e te enviava para outro lado. Quando chegávamos neste outro lugar estavam cobrando U$ 10 dólares por informação. Eu realmente voltava para casa contrariado com tudo isso. Muitas vezes tive que orar ao Senhor pedindo calma para vencer esses problemas e chegar ao objetivo.

Mas sofrer com o povo do mundo é uma coisa, mas o que te abate mesmo são os sofrimentos com aqueles que se dizem cristãos. O trabalho missionário chama atenção, move o coração do povo, anima qualquer servo fiel a contribuir e tudo isso é terreno fértil para se praticar a injustiça. Lembro-me de quando saímos do nordeste do Brasil em 1995, do estado do Ceará, para fazer o trabalho missionário no Paraguai, nós vendemos tudo que tínhamos e necessitávamos de ajuda para seguir a caminhada. Meu pai saía nas igrejas das quais muitas delas fomos bem recebidos, mas também tivemos a experiências de ser tratado injustamente. Mesmo tendo a carta do pastor presidente orientando a retirar as ofertas para nos ajudar não tivemos como escapar. Em determinadas igrejas faziam as famosas campanhas para “ajudar os missionários”. Nossa necessidade era explorada e animavam o povo a ajudar, pois estavam participando no “Ide” de Jesus Cristo. O que não sabíamos era que já havia um valor estipulado para entregar nas nossas mãos e o restante ficava no caixa local. Em certa ocasião, lembro-me muito bem que meu pai recebeu apenas R$ 50,00 Reais e quando saímos da igreja um irmão se aproximou perguntando quanto nos deram de oferta. Meu pai não queria dizer o valor, mas diante da insistência revelamos. O irmão ficou muito nervoso e disse: Pastor, só eu entreguei nesta noite um cheque de R$ 300,00 Reais.

Realmente podemos encher folhas e folhas falando das injustiças no âmbito financeiro e é desanimador aos futuros missionários. Mas também a nossa integridade é tocada e isso também nos fere. Sempre aprendi a provar as pessoas, observar suas ações e não fazer julgamentos a primeira vista.  Em uma ocasião ficamos na casa de um pastor enquanto buscava uma casa para alugar. Nós ficamos vários dias hospedados até que conseguimos nossa casa, porque realmente não estava nada fácil. Tempos depois o pastor veio nos visitar e disse que gostou do tempo que ficamos em sua casa e nos disse que estávamos sendo observados, pois muitos quando chegam saem visitando o povo, falando o que não deve e muitas vezes levantando o povo contra o pastor.  Este pastor nos parabenizou e nos disse que sua igreja estaria sempre com as portas abertas para nos receber. Por certo que para chegarmos a adquirir tal privilégio devemos agir a altura. Já em outra ocasião, da mesma forma numa casa pastoral, o chefe da casa chega alegre dizendo que encontrou uma casa nova que estava para alugar e num preço favorável. Aquela casa estava a poucas quadras da igreja. A mulher do pastor gritou: “Homem, não faça isso! Peniel vai começar a visitar os membros da nossa igreja e arrastar todo mundo para os cultos que vão começar fazer em sua casa.” Com certeza eu não tinha estrela na testa dizendo que eu não era esse tipo de pessoa, mas seria mais sábio observar e no tempo certo fazer os julgamentos. Aquela atitude me entristeceu em um momento de muita necessidade. Também de igual forma aprendemos sobrelevar tais situações.

Quer fazer missão? Então prepare-se para as injustiças. Quer não ser abatido durante a caminhada? Prepáre-se para o pior. O trabalho missionário exige um trabalho conjunto, pois o missionário é a ponta de tudo, é o momento final. Como uma espada tem o seu pega mão, tem a proteção, tem a espada em todo o seu comprimento, o missionário é a ponta disso tudo. A igreja é mobilizada, a Secretaria de Missão faz o trabalho, Associações Missionárias em movimento, Agencias Missionárias , tudo para que o missionário esteja no local e faça o trabalho. Mas o que se vive em nossos dias? A igreja que perde seu foco em Missão, Secretarias de Missões que não destinam o recurso ao trabalho missionário, Associações e Agencias Missionárias fraudulentas e o resultado é uma forte carência no campo missionário. Muitos missionários não saem ao campo sem antes não fazer um contrato com a igreja que os envia ou a Agencia Missionária. Em minha opinião isso é triste, pois diante do não cumprimento a Justiça dos Homens é que vai dizer quem tem a razão.

Não é próprio falar de injustiça quando falamos de fazer o trabalho missionário. Não combina falar de fraudes quando o tema é evangelismo. Como diz a Palavra de Deus: “Vi mais debaixo do sol que no lugar do juízo havia impiedade, e no lugar da justiça havia iniqüidade.” (Eclesiastes 3:16). Alcançar os perdidos com a Palavra de Salvação, levar o evangelho aos pecadores, ir a lugares longínquos para falar de Jesus, todos estes são temas que impulsionam nosso coração a fazer a Obra, nos motiva a pagar qualquer preço pela realização. E entre os muitos preços por esta realização existe o de sofrer injustiças por parte daqueles que deveriam ser nossos apoiadores.  Por certo que este é um golpe forte para aqueles que já estão sofrendo com muitos outros pontos, mas ser injustiçado pelos de sua própria igreja, padecer injustiça pelos de sua própria Agencia Missionária, descobrir desvio de dinheiro pelos “irmãos” de sua Associação Missionária, e dinheiro que certamente seria muito bem aproveitado, é golpe baixo, quase e muitas vezes mortal. Você realmente está pronto para pagar o preço?

O objetivo não é desanimar você que tem tanta vontade de fazer o trabalho missionário, mas apenas fazer pensar um pouco e buscar levar-te a uma preparação no seu coração quanto ao alto preço que o servo de Deus deve pagar para lograr seu objetivo no Reino de Deus. Por causa das injustiças muitos não suportam e abandonam o campo. Homens e mulheres que têm uma capacidade de desenvolver brilhantes trabalhos são abatidos e voltam a trás por sofrerem injustiças. E não falamos apenas de injustiças na área financeira, mesmo que esta mais se destaca.Em certa ocasião, conversávamos com um missionário do estado do Espírito Santo, Brasil e aquele homem estava com os olhos cheio de lágrimas e o coração amargurado, pois havia deixado tudo e vindo com sua familia ao Campo Missionário. A Secretaria de Missão de sua igreja não havia feito um levantamento dos gastos e na época o visto do primeiro ano em Bolívia custava 1000 dolares. Aquele homem estava sendo acusado de super faturamento.

O segredo para suportar é manter os olhos na Chamada, na ordem do Mestre. De uma coisa sabemos, o Senhor julgará os homens fraudulentos e tem seu galardão guardado para os que combatem o bom combate com fidelidade, pois um dia ELE mesmo nos dirá: “Bem está, bom e fiel servo. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.” (Mateus 25:23)

Pastor Peniel Nogueira Dourado

Escrito em 23 de fevereiro de 2012 – Santa Cruz de La Sierra, BO

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